segunda-feira, 12 de abril de 2010

FAMILIAS CELEBRAM 10 ANOS DE PAZ


O acordo de paz entre as famílias sertanejas Araquan, Benvindo, Russo, Cláudio e Nogueira, que já dura 10 anos, foi comemorado com uma missa na Fazenda Serrota, na cidade de Belém do São Francisco, neste último domingo (11). O evento católico reuniu membros das cinco famílias, que por 14 anos travaram uma guerra, resultando na morte de mais de 100 pessoas.

A missa foi celebrada pelo bispo Dom Adriano, padre Roberto e padre Felix. Um dos idealizadores do acordo de paz, o padre Roberto, falou que daria a sua vida pelo fim da briga entre as famílias.

Em seguida alguns membros também se pronunciaram. Rogério Araquã pediu agilidade nos processos das famílias, que fazem mais de 10 anos estão sem julgamento.

Membro da família Russo, Barná falou que espera que os julgamentos dos processos sejam realizados pela justiça em Cabrobó e Belém do São Francisco. Segundo Barná Russo, não é justo que os juízes que respondem por essas comarcas enviem os processos para Recife, "pois as pessoas de outras regiões ou da capital não tem conhecimento do que foi a guerra".



Pêo de Claudio também se pronunciou, falando da emoção das famílias estarem comemorando os 10 anos de acordo de paz e desejou que este acordo persistisse para sempre.

O acordo foi assinado oficialmente no Fórum de Salgueiro, em 2000, e foi acompanhando por deputados estaduais que integravam a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pistolagem e do Narcotráfico. Os clãs dos Araquan e Benvindo selaram um acordo na Assembléia Legislativa de Pernambuco, no Recife, onde ficou definido que por durante seis meses nenhum dos integrantes das famílias poderiam circular nas cidades onde os rivais moram. Sendo assim, os Gonçalves - aliados dos Araquan - não poderiam circular em Belém de São Francisco. Enquanto que os Nogueira, Gonçalves da Silva (conhecidos como os Cláudio) e Simões de Medeiros (chamados Russo), aliados dos Benvindo, também não deveriam circular pelos municípios de Abaré, na Bahia, e em Mirandiba, Pernambuco.




3 comentários:

Viviane disse...

Esse conflito aconteceu há quase trinta anos atrás, era outra época, outro contexto social... As sociedades Belemita e Cabroboense encontravam-se ainda muito influenciadas pelo sistema coronelista, pelo descrédito do poder judiciário que sofria interferências dos poderes administrativos e pela própria cultura do sertão, que como sabemos ficou esquecido durante longos anos pela política do café com leite; obrigando o homem sertanejo muitas vezes a criar suas próprias leis e resolver pessoalmente os conflitos sociais, a exemplo do caso Lampião...


Sou belemita e morei em Cabrobó durante esse período. Portanto conheço não só a história, como também todos os líderes da Paz, Vavá Araquãn, Barná Russo, Pêo de Cláudio e José Neto; GRANDES HOMENS, que apesar das origens simples do campo nos dão show de civilização, ética, respeito, honestidade. Com certeza, exemplos para os jovens.


Seria interessante agora que o Estado atendesse, através do poder judiciário às reivindicações de celeridade nos processos, que aliás, é um princípio processual. Contribuindo assim, para que todos possam ultrapassar essa etapa e dar continuidade às suas vidas. Afinal nessa história não houve vencidos e vencedores, foram todos vítimas da má organização do Estado Brasileiro.

EAD NOVOS TEMOS disse...

Não existe grandes ou pequenos homens nessa história. Mas uma questão social, que foi um verdadeiro holocaust, não são para as famílias envolvidas, mas para toda a região. Isso é o que acontece quando ha ausência de um Estado de Bem Estar Social para promover uma sociedade pobre e fragilizada. Permitindo que exista uma rede narcotráfico e violência que alicia as comunidades mais fragilizadas. Sem falar que nesses momentos os sujeitos também esquecem que existe um DEUS, Jeová, que promove justiça e não foi a homens q ELE delegou esse poder. Então, Estado se faça presente nessa região tão "abrilhantada" pela midia como poligono da maconha, população se utilizem dos movimentos sociais para reinvidicarem melhores condições de vida e trabalho. Jovens, não tende a repruduzir tão ação e compreendam que a educação é a melhor base para luta.

cris disse...

É gratificante saber que as pessoas ainda não chegaram ao estágio da barbarie absoluta. Este encontro é uma demonstração clara disto, pois ali estavam pessoas que perderam filhos, irmãos, pais, tios, primos, maridos, enfim pessoas que lhes eram muito caras. E, muitas vezes, inocentes deste conflito, que ao contrário do que se propagou por muito tempo na mídia, não teve como causa motriz a industria da maconha e sim a tolerância dos gestores políticos da região e de Belém do S. Francisco, em particular, diante de atos criminosos contra os quais eles impediam a polícia de cumprir o seu papel, para não desagradar seus cabos eleitorais. Cresceu-se então na região um ideario de impunidade. E, nisto pagou o preço toda uma população produtiva, tanto da zona rural como das ilhas, que eram povoadas justamente por estas famílias que para não morrer tiveram que se retirar ou então viver sob constante sobressalto. Mas a coisa não é assim simples, há por tras de tudo isto uma grande falta do Estado na região, isto porque quando do surgimento da maconha nesta area de Pernambuco apenas souberam combater o plantio, mas nao souberam promover políticas públicas de convivência com a seca. Para quem tem um pouco mais de idade e que conheceu a cidade de Belém lá pelos anos setenta e primeira metade dos ans oitenta sabe o quanto ela era uma cidade prazerosa de se viver, com boas escolas, bom comércio, pacata (claro, com alguns conflitos, como todo lugar) e que era considerada a cidade mais bonita e mais evoluida da região. Há que se perguntar como foi que chegou ao ponto que chegou nos dias atuais? terá sido apenas por causa da briga entre os clãs? a explicação não seria assim tão simples. Que aqueles que detinham o poder da cidade àquela época se perguntem o que eles poderiam ter feito de diferente lá em meados de 1985. Talvez, apenas talvez a história hoje fosse outra. Não tivesse a briga entre as famílias ido tão longe e outras tantas a exemplo, dos Russos e dos Claudio nao tivessem sofrido com ela, pois não teria chegado até Cabrobó. Outra bela cidade para se viver, de gente alegre e hospitaleira. Mas, o que quero mesmo é deixar meus parabéns para pessoas como Barná e Vavá Araguã (pessoas queridas e respeitadas pelos seus) pela coragem que tiveram de dar "as caras a tapa" e buscar solucionar um conflito onde a real causa já tinha se perdido no tempo, há muito. E, para vocês gestores de Belém do S. Francisco e que são herdeiros políticos daqueles que sempre governaram o destino desta cidade fica a dificil, mas não impossível missão de trazer esta cidade de volta a rota do desenvolvimento.