domingo, 7 de março de 2010

Policial é acusada de constranger jovens em rua do Recife

Do Jornal do Commercio

Uma policial militar do Grupo de Apoio Tático Itinerante (Gati) está sendo acusada de constranger duas jovens, uma delas de 15 anos, durante abordagem de rotina realizada no fim da tarde da última terça-feira, no Alto José do Pinho, Zona Norte do Recife.

As duas jovens denunciaram que a PM introduziu o dedo na vagina e no ânus delas, no meio da rua, diante de outros policiais e de diversas pessoas. Entre elas, o filho de 5 anos de uma das vítimas. No dia seguinte, as jovens prestaram queixa na Ouvidoria da Secretaria de Defesa Social (SDS). Neste sábado (6), a assessoria de imprensa do órgão informou que o caso está sendo investigado pela Corregedoria de Polícia.

A dona de casa de 23 anos teria sido mais constrangida, porque foi abordada na frente do filho. “Nunca passei por algo parecido. A PM veio com uma luva cirúrgica na mão, dizendo que iria me examinar. Sem saber o que fazer, perguntei como seria e ela disse que ficasse de costas, com a mão na cabeça. Quando percebi o que ia acontecer, pedi para sair do meio da rua. Fomos para a entrada de um beco, mas mesmo assim fiquei exposta, todo mundo vendo tudo”, contou.

A jovem estava de saia e a PM ainda chegou a levantá-la. “Ela puxou minha calcinha, colocou o dedo na minha vagina e depois enfiou no meu ânus. Sem qualquer cuidado e de forma agressiva. Fiquei tão envergonhada e assustada que não consegui falar. Tive medo de apanhar. Meu filho ficou traumatizado, dizendo que a polícia queria roubar a gente porque os PMs também revistaram a bolsa dele”, relatou. “Eu sei que onde eu moro tem muito tráfico de drogas, mas nunca me envolvi com isso nem com quem faz uso. A polícia não pode agir dessa forma nos lugares só porque somos pobres. As pessoas que estavam na rua pararam para assistir à cena. Homens que bebiam nos bares saíram para olhar. Depois, ficamos ouvindo gracinhas. Perguntavam se a dedada tinha sido boa.”

A dona de casa tinha acabado de pegar o filho na escola e conversava com algumas amigas em frente a uma barraca. No grupo só havia mulheres. Os policiais militares passaram olhando, deram a volta e pararam no local. Abordaram primeiro a adolescente, que estava do outro lado da rua. “A policial me chamou de neguinha e perguntou se eu era traficante. Eu disse que não. Estava entregando um livro a um amigo. Mandaram a gente ficar de costas. Um PM revistou ele e a policial abriu meu short e, na rua mesmo, com todo mundo olhando, enfiou a mão na minha calcinha e me cutucou. Depois mandou eu virar de costa e fez o mesmo”, relatou a adolescente.

As jovens contaram ter ficado tão nervosas e assustadas com o tipo de abordagem que não registraram o número de identificação das duas viaturas policiais ou as placas. Sabem apenas que um dos veículos era do Gati e o outro no padrão tradicional da PM. Pelas informações da SDS, o Alto José do Pinho é área de atuação do 11º BPM e provavelmente os PMs eram lotados naquela unidade. Segundo a assessoria de imprensa da SDS, o comando do batalhão não sabia do ocorrido e aguarda a denúncia chegar à unidade para também abrir procedimento de investigação. As PMs têm prerrogativa de fazer abordagens íntimas em mulheres, mas como explicou a SDS, somente diante de denúncias fundamentadas e em locais fechados, sem expor as vítimas a constrangimento, como aconteceu.

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